Não é por que um negócio é de pequeno porte que a sua responsabilidade com o país terá tamanho proporcional. Quando o assunto é compliance, há muito a fazer mesmo em empresas enxutas. O termo soa estranho a você? Iremos explicar.
O que é compliance?
Compliance é uma palavra da língua inglesa que significa conformidade. Por aqui, é sinônimo de “andar na linha”. Adotar o compliance significa agir de acordo com o previsto na lei e em obediência a regras éticas e morais, sem transgressões.
Mas o que isso tem a ver com o meio empresarial? Absolutamente tudo.
O Brasil vive um momento delicado do ponto de vista moral e ético, dando mostras de que o compliance por vezes fica em segundo plano.
Basta ver a escalada da corrupção, que iniciou há alguns anos no Mensalão e chegou à Operação Lava-Jato, envolvendo não apenas políticos, como grandes empresários brasileiros.
O mesmo ocorreu nas denúncias recentes da Operação Carne Fraca, com um impacto severo sobre a indústria da carne e a sua idoneidade.
Mas o que isso tem a ver com as pequenas empresas? Muita coisa.
Poderíamos nos limitar ao contexto da frase que abre este artigo: a responsabilidade é também dos pequenos empreendedores. Mas não se trata apenas de um compromisso moral. Ele é também legal.
A Lei 12.846, chamada de Lei Anticorrupção, publicada em 2013 e regulamentada em 2015 pelo Decreto 8.420, coloca todas as empresas diante das mesmas exigências. Não importa o seu porte, há a obrigatoriedade de seguir o compliance como um conjunto de esforços para prevenir e combater atos ilícitos.
E entenda o seguinte: não se trata apenas de não cometer nenhuma irregularidade. É preciso estar de olhos abertos para reprimir e denunciar ocorrências, se preciso for.
Ainda que a conduta irregular parta de um funcionário, sem autorização ou mesmo conhecimento da empresa, ela também corre risco de punição. O argumento legal é que fez uso de benefício pelo ato ilícito, mesmo sem comprovação de culpa.
Como o compliance se aplica a uma pequena empresa
Uma série de mecanismos de enfrentamento da corrupção estão previstos na legislação. Entre eles, códigos de ética, auditoria e denúncias de irregularidades.
Especificamente com relação aos pequenos negócios, o rigor é o mesmo, mas a abordagem recebeu uma versão simplificada na Portaria 2.279 da Controladoria Geral da União (CGU).
O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que já atuava ao lado da CGU no programa Empresa Íntegra, lançou a cartilha Integridade nos Pequenos Negócios. Esse documento é bastante útil para elaborar e manter controles de acordo com o exigido na legislação, o que é de especial importância para quem negocia com órgãos de governo.
Conheça agora os parâmetros esperados de uma micro ou pequena empresa dentro de uma estratégia de compliance:
- Comprometimento da direção da empresa
- Adoção de padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos
- Treinamentos e divulgação do programa de integridade
- Registros contábeis confiáveis
- Controles internos que assegurem a elaboração e a confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiras
- Procedimentos para prevenção de fraudes e irregularidades em licitações, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público
- Medidas disciplinares
- Procedimentos que assegurem a pronta interrupção de irregularidades e correção de danos
- Transparência na doação a candidatos e a partidos políticos.
Dentre os nove parâmetros relacionados, vale uma análise mais profunda sobre aqueles listados nos números 4 e 5, que estão diretamente ligados à contabilidade e gestão financeira de uma empresa.
Há uma série de argumentos possíveis para maquiar as demonstrações contábeis de uma empresa, embora nenhum encontre justificativa plausível. É o que se convencionou chamar de contabilidade criativa, um recurso que muitas vezes parte do empreendedor para pagar menos impostos.
Além de ser ineficaz para a própria manutenção do negócio, a irregularidade ou fraude pode ser um verdadeiro tiro no pé. No âmbito administrativo, conforme a Lei Anticorrupção, a multa prevista varia entre 0,1% a 20% do faturamento bruto da empresa no ano anterior, sendo de no mínimo R$ 6 mil e de no máximo R$ 60 milhões.
E para aqueles que se enganam imaginando que uma prática ilícita pode permanecer encoberta, vale dizer que o cerco vai se fechando. Nos próximos meses, entra em vigor uma norma brasileira do Conselho Federal de Contabilidade, sobre a qual já falamos aqui no blog, que muda a postura do contador diante da identificação de irregularidade na empresa que atende.
Antes, ele nada podia fazer devido ao compromisso com o sigilo profissional. A partir deste ano, em casos mais graves, o profissional contábil tem total liberdade de renunciar ao trabalho e ainda levar a denúncia aos órgãos competentes.
Por que o compliance é um bom negócio?
Não é somente para evitar complicações legais que elaborar um programa de integridade é uma boa ideia para uma pequena empresa. Você sabia que até mesmo para exportar ou para contratar empréstimo pode ser exigido que atenda aos dispositivos da Lei Anticorrupção?
A Câmara de Comércio Exterior (Camex), por exemplo, só apoia empresas em vendas para fora do país quando elas assinam uma declaração, garantindo o cumprimento às normas. Já o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por sua vez, condiciona a concessão de crédito à adoção de medidas de integridade.
Ter controles bem definidos sobre atos ilícitos também pode gerar um tipo de reação em cadeia. Atrair clientes, melhorar a qualidade de vida no trabalho de seus colaboradores e obter melhores condições junto aos fornecedores são ganhos possíveis.
O Sebrae defende que, ao abraçar a integridade, o empreendedor se aproxima daqueles que procuram no mercado parceiros com o mesmo propósito.
Para isso, a sugestão é começar pelas seguintes ações:
- Divulgar na empresa os valores em evidência
- Respeitar os parceiros de negócios
- Tratar bem os funcionários
- Honrar contratos e acordos
- Respeitar a legislação
- Não enganar ou tentar levar vantagem sobre clientes ou fornecedores
- Não cometer infrações e evitar que elas aconteçam.
Dê o exemplo na sua empresa
As razões estão agora expostas. Um ambiente de compliance é lei e também uma obrigação moral da sua empresa.
Tanto é assim que ter um programa de integridade ativo e bem estruturado é condição atenuante da penalidade caso algo escape do seu radar e uma irregularidade seja cometida e identificada.
Aposte em um ambiente empresarial sério, íntegro e idôneo. Você, sua empresa e seus colaboradores só têm a ganhar.
E para você, como os pequenos negócios podem ajudar a colocar o país nos trilhos? Comente!