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5 lições de Doug Sleeter

Gabriel Manes Gabriel Manes | Atualizado em: 26/03/2024 | 8 mins de leitura

5 lições de Doug Sleeter

Em algum lugar da América, a cerca de 10.000 metros de altitude e a quase 1.000 km/h…

A semana no Vale do Silício não poderia ter sido melhor. Há mais de dois anos que acompanho e aprendo muito com Doug Sleeter, mas na última semana tive a oportunidade de estar com ele por dois dias inteiros, discutindo o futuro da contabilidade.

Doug vive na pequena cidade de Pleasanton, na Califórnia, com sua esposa. Tem um filho de 28 anos, que é seu companheiro de golfe, e gosta de se aventurar com artefatos de madeira. É uma pessoa simples, mas de inteligência e visão invejáveis.

Tem 35 anos de experiência em tecnologia aplicada à contabilidade. É autor, palestrante e fundador do Sleeter Group – uma rede global de contadores e consultores de software. Em 1994 criou o SleeterCon, hoje chamado de Accountex, que se tornou o maior evento independente mundial de tecnologia para contabilidade. Tem dedicado sua vida a evangelizar soluções tecnológicas que melhoram a performance de empresas e como reconhecimento pelo seu trabalho é listado entre as 100 pessoas mais influentes em contabilidade no mundo.

Durante a primeira manhã, minha missão foi de passar o contexto do mercado brasileiro e exercitar com o Doug um paralelo com o que aconteceu e acontece nos EUA. Logicamente estamos falando de mercados distintos, mas é impressionante como os desafios das empresas contábeis são parecidos!

Há 8 anos surgiram nos EUA as plataformas que passaram a possibilitar integração de cliente e contador com ajuda de tecnologia em nuvem. No Brasil temos estas tecnologias à disposição há pouco mais de 3 anos, mas de forma mais limitada. Explico: como muitos de vocês sabem, a maioria dos sistemas contábeis brasileiros são desktop, ou seja, mesmo que o sistema financeiro do cliente seja em nuvem, é necessário baixar um arquivo para importar em um sistema desktop, para então realizar a integração.

Nos EUA há o conceito de plataformas única, onde cliente e contador trabalham integrados com a mesma versão de dados e a contabilidade pode ser feita em tempo real. Em breve teremos isso no Brasil 🙂

Após ouvir o que acontece no mercado americano há 8 anos, pude compreender exatamente onde estamos e quais são os próximos desafios e oportunidades das empresas contábeis brasileiras. Afinal, o mercado americano está alguns anos na nossa frente em relação à adoção de tecnologia e o que acontece lá hoje é praticamente o nosso futuro.

Vou tentar resumir em 5 pontos o que eu aprendi e reaprendi com o Doug Sleeter. Enjoy 🙂

1 – Agora é possível entregar os serviços que os clientes realmente querem e precisam

Assim como no mercado brasileiro, existe um desafio de mostrar valor nos serviços prestados por uma empresa contábil. Com a adoção de tecnologia na relação cliente – contador, o contador americano está conseguindo ter informações em tempo real. Informação em tempo real possibilita apoio e impacto em tempo real. O contador consegue ser proativo ao invés de ficar apresentando somente dados históricos e atendendo compliance. A oferta de consultoria e outros serviços por empresas contábeis passa a ser possível a partir do momento que é resolvido esse gargalo na troca de informações. Segundo uma pesquisa realizada com a nossa base de clientes e apresentada no Dia D ContaAzul, 73% das empresas querem o contador mais próximo. Você sabia disso? Nos EUA esta estatística é muito parecida.

2 – O contador deve adotar sistemas que satisfaçam as necessidades do seu cliente

Onde começa a contabilidade? É lá no financeiro do cliente. Você pode ter a melhor equipe contábil do mundo, os melhores sistemas e o melhor processo. Nada disso adianta se você não tiver informações do cliente. O que o Doug reforça muito é que o sistema financeiro do cliente precisa ser inteligente e fácil de usar. Inteligente para que a entrada de dados seja o mais automatizada possível: integração bancária automática, captura de XML de entrada, integração com outros sistemas do ecossistema do cliente, são alguns exemplos de funcionalidades fundamentais. Fácil de usar para que o sistema eduque o cliente e o motive a dar um novo passo a cada dia em sua gestão. Sistemas engessados, que só atendem as demandas da contabilidade, podem oferecer mais resistência à adoção, travando todo o processo e matando a tão sonhada produtividade contábil. Lembre-se: se é fácil para o cliente, é ótimo para o contador.

3 – Não percam tempo com medo da “nuvem”. Vocês já fazem parte disso

Muitos profissionais ainda não entenderam que “nuvem”, em uma abordagem muito simples, significa internet. Você usa e-mail? Tem Facebook? Já pagou contas pelo aplicativo do seu banco? Usa Dropbox, Google Drive? Sim. Você está na nuvem. Por que ainda ter medo de usar tecnologias em nuvem para fazer contabilidade? Acostume-se e abrace tecnologias em nuvem. São mais baratas, mais seguras, possibilitam colaboratividade, integrações e produtividade. Não vire a cara para o futuro, em breve seu velho servidor estará em um museu!

4 – A tecnologia vai substituir o trabalho do contador?

Há 8 anos que existem tecnologias para automação de entrada de dados e integração entre cliente e contador nos EUA. Mesmo assim, a profissão contábil não está nem perto de acabar, muito pelo contrário. Contadores conquistam um papel cada vez mais importante para as empresas. Doug acredita que há uma mudança brusca a acontecer na profissão contábil. Contadores precisam fazer uma escolha: Manter o mesmo modelo de negócio e tornarem-se irrelevantes para o cliente aos poucos; ou abraçar as oportunidades da tecnologia para adotar um novo modelo de negócio, transformando sua prática em algo que entrega real valor aos clientes. Ele menciona que a agilidade supera a habilidade. Muita tecnologia disponível ainda não está sendo utilizada como vantagem nas empresas contábeis. É preciso ser ágil para estar atualizado e preparado para o que vem pela frente. E a resposta à pergunta? É não. A tecnologia ao invés de substituir, vai finalmente possibilitar que o contador realize seu trabalho. Mas para isso é preciso tomar uma ação e planejar a adoção de tecnologia em sua empresa contábil.

5 – O mercado está mudando e o futuro não está para todos

Ao olhar para mercados mais desenvolvidos no mundo todo, temos uma forte tendência a querer adotar o que eles estão fazendo. O grande erro está no fato de não olharmos para o que eles fizeram antes de atingirem o patamar atual. Doug Sleeter ao entender melhor do nosso mercado, comparou com o mercado americano e com os desafios enfrentados com a disrupção imposta pela transformação digital. O futuro da profissão contábil é sim a informação em tempo real. É a orientação baseada no que está acontecendo no agora. Mas para que o contador preste de forma estruturada esses novos serviços, ele precisa primeiro resolver o problema de colocar a contabilidade dos clientes em dia e eliminar os gargalos existentes no processo de troca de informação. Vender consultoria sem fazer contabilidade não vai funcionar. É preciso resolver o problema número um, eliminar o retrabalho e a digitação, conquistar produtividade e informação em tempo real para ser o conselheiro do cliente. Nem todos vão entender isso a tempo e o mercado filtrará a base da cadeia alimentar. É isso que está acontecendo no mercado americano.

Doug Sleeter estará pela primeira vez no Brasil no ContaAzul [CON], o que será o principal evento de tecnologia e contabilidade da América Latina. Depois de conhecê-lo pessoalmente, tenho reforçada minha motivação e missão de levar o máximo de empresários e profissionais contábeis para este evento. É uma visão do futuro com ação no presente. Doug vai abordar o que aconteceu, o que está acontecendo e trará sua percepção de futuro, relacionando a contabilidade a tecnologias como o Blockchain.

Doug está inclusive sendo nosso mentor para a criação deste evento, algo que ele faz desde 1994 e que serviu para transformar um mercado gigante como o americano. É um evento feito por contadores, para contadores.

Espero muito em breve poder compartilhar as outras experiências que tive nesta viagem ao Vale. Visitamos empresas como Google, Airbnb, Xero e há muito a compartilhar com vocês.

Nos vemos no ContaAzul [CON]!

Grande abraço.

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