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ONG Ideais prova que deficiência não é barreira para gerenciar empresa

Equipe Conta Azul Equipe Conta Azul | Atualizado em: 26/01/2024 | 6 mins de leitura

ONG Ideais prova que deficiência não é barreira para gerenciar empresa

A vida do consultor em Inclusão Social Mário Júnior Xavier, idealizador da ONG Ideais, é digna de filme. Órfão de pai e mãe, parcialmente cego, até os 18 anos viveu em orfanatos. Ao se emancipar, precisou buscar pensões para sobreviver, já que nenhuma família lhe acolheu antes de completar a maioridade. Mais ou menos nessa época resolveu se desafiar e enfrentar o movimentado mercado imobiliário da capital paulista. Conquistou bons momentos nessa carreira, mas não demorou muito para que outro obstáculo aparecesse em sua caminhada: a perda total da visão.

Apesar disso, a vontade de vencer não diminuiu. Na época, ainda com 27 anos, precisou se reinventar, encontrando no esporte um caminho a ser trilhado para buscar seus objetivos e seu sucesso. Daí em diante passou a colher muitos resultados positivos, graças à sua paixão pelo esporte, determinação e força de vontade.

Foram essas qualidades que o permitiram ingressar na equipe paralímpica brasileira de natação. Até 2006, Mário competiu pela seleção nacional, representando o país na modalidade. Inclusive foi o primeiro atleta cego a representar o Brasil em competições além-fronteira. Embora a carreira de nadador tenha alcançado pouco mais do que a metade dos anos 2000, ele permaneceu nas piscinas até 2010, quando outra ideia começava a tomar forma em sua mente.

Esse pensamento começou a germinar em 2009, quando Mário resolveu entrar no curso superior de gestão financeira. E foi utilizando os conhecimentos da graduação que, já no ano seguinte, ele deu forma ao que seria o Instituto de Desenvolvimento Educacional e Assistência à Inclusão Social (Ideais). “A minha preocupação era auxiliar os atletas paralímpicos: o que fazer depois do esporte?”, perguntava-se. Com esse questionamento, o projeto de uma iniciativa que oferecesse profissionalização para deficientes, orientando para um caminho de sucesso a quem tinha qualquer limitação física, começou a se tornar realidade.

Com a ajuda da esposa e mais dois amigos ex-técnicos de natação, a ONG ganhou vida em agosto de 2011 e hoje realiza atendimento a pessoas com essas características, principalmente ex-atletas, oferecendo noções de administração. “Eu tenho uma autoridade em Excel no país e trabalho para passar isso às outras pessoas, porque a área administrativa é perfeita para cegos, por exemplo”, relata Mário.

Segundo ele, muitos gestores ficam receosos em conhecer as suas habilidades e a sua capacidade em administrar. Mas bastam algumas pequenas demonstrações e a exibição dos relatórios da própria ONG para mudarem de ideia. “Administrar uma ONG é quase o mesmo que cuidar de uma empresa. A diferença é o objetivo de negócio. Eu posso dizer que sou um empreendedor social”, define.

Desafios para dar vida à ONG Ideais

É essa energia de empreendedorismo social que Mário procura passar para os quase 300 beneficiados da instituição. De acordo com ele, cegos são capazes de gerenciar uma empresa tranquilamente, e é preciso fazer com que eles acreditem na própria capacidade.

Para motivar seu público com todos esses valores, no entanto, foi preciso superar algumas dificuldades. O receio dos apoiadores por conta da sua condição foi o menor dos problemas. Mais complexo foi lidar com a burocracia e reunir coragem para, com poucas pessoas, empreender uma atividade de tanta responsabilidade e importância. “Reunir uma equipe qualificada para atuar com uma visão super profissional do que fazíamos também foi um dos principais desafios”, pontua Mário.

Apesar disso, o ex-atleta encontrou parcerias e instrumentos que permitem, como ele mesmo diz, fazer o trabalho “andar sozinho” atualmente. E uma dessas ferramentas foi justamente o ContaAzul. É claro, é preciso fazer algumas adaptações, até porque uma ONG não tem controle de estoque no sentido literal do termo, por exemplo, bem como uma série de rotinas comuns a uma empresa. Mas ela precisa fazer a captação de recursos, então esse dinheiro tem uma origem e um destino, e para tudo é preciso comprovações.

A administração tem dado tão certo e os resultados estão tão presentes na comunidade que a Ideais já está presente em três cidades de São Paulo — Araraquara, Iracema e Jundiaí — além da capital fluminense. O esporte e a educação superior são os carros-chefe do negócio e entre os apoiadores estão cinco investidores e oito voluntários, que atuam com muita dedicação para garantir a qualidade dos serviços prestados.

Gerenciar o aspecto econômico de uma instituição como a Ideais exige bastante empenho. O cuidado com o fluxo financeiro é primordial para garantir a continuidade das atividades. De acordo com Mário, um projeto chega a custar R$ 700 mil. Além disso, são mais de R$ 2 mil por mês só com a burocracia. “Fazer social só não tem o lucro, mas a gente precisa cuidar como se fosse uma empresa”, compara.

Um grande auxílio em todas as ações desempenhadas é a venda de palestras, materiais didáticos e produtos com a marca da ONG. Esses valores também entram na contabilidade e exigem um sistema que facilite a administração.

ContaAzul e ONG Ideais

Neste contexto de uma gestão eficiente é que o ContaAzul colabora com a ONG. Mário se diz completamente satisfeito com o sistema, por ser prático, intuitivo e simples. “Quando comecei a pesquisar algum programa que pudesse me ajudar, achai vários, mas o ContaAzul me surpreendeu. Eu não sou cego usando o ContaAzul”, resume.

Nele, os processos de lançamento de vendas, contas a pagar e a receber são automáticos, o que facilita o dia a dia. Todas as ações são realizadas pelo próprio Mário, que diz “fuçar” ao máximo para extrair toda a autonomia possível na execução das suas atividades. “Só para gerar extratos que eu dependo de alguém. Mas em geral, a gestão é nota dez, é sensacional. Uso o ContaAzul há dois anos e ele facilita muito a minha vida”.

Essa facilidade, segundo Mário, tem muito a ver com o auxílio que ele encontra sempre que precisa. A ferramenta utilizada para buscar esse apoio é o telefone e, embora tenha conquistado toda essa autonomia no uso do sistema e, por isso, destacar a facilidade em trabalhar com ele, uma dúvida ou outra sempre acaba surgindo. Nessas horas é que a equipe do ContaAzul oferece um suporte técnico que o gestor classifica como “fantástico”.

Metas para os próximos anos

Entre 2016 e 2020, os planos do instituto são de atender aproximadamente 5 mil pessoas em todos os projetos: educação, esporte, cultura e saúde. Mais à frente, a meta é ampliar o acesso às áreas do conhecimento, promovendo cada vez mais a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e no ensino superior, além de criar condições e estimular a prática de esporte profissional no público atendido dentro dos programas voltados a esse fim na ONG.

Pessoalmente, Mário tem projetos pessoais ousados para contribuir ainda mais com a comunidade. Segundo ele, o crescimento da Ideais é natural e agora há a possibilidade de empreender outros desafios sem prejudicar o andamento de tudo o que foi feito até aqui a partir do acúmulo de experiências na administração do instituto, da sua carreira de atleta e de toda a sua trajetória de vida.

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