Controle Financeiro

Recuperação de empresas: como sair do vermelho?

Marcio Roberto Andrade Marcio Roberto Andrade | Atualizado em: 07/07/2023 | 6 mins de leitura | ← voltar

Planejando recuperação de empresas

Quando as dívidas se acumulam e o empreendedor vê o saldo negativo como parte da rotina, pode ser difícil acreditar na recuperação de empresas. Mas é preciso manter a esperança. Como veremos neste artigo, esse é o primeiro passo para elaborar uma estratégia correta e sair do vermelho.

Recuperação de empresas: mais negócios no vermelho

A Receita Federal acabou de notificar mais de 556 mil micro e pequenas empresas que possuem dívidas com o órgão e com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Quem não quitar o que deve em menos de 30 dias, será excluído do Simples Nacional, o regime simplificado de recolhimento de impostos.

Quando o credor bate à porta com uma ameaça tão séria, a recuperação de empresas parece ainda mais difícil. Não é raro que esse tipo de situação seja o estopim de uma crise que se arrasta, com débitos financeiros, tributários e previdenciários. Muitas vezes, é o alerta para iniciar um planejamento para fechar as portas.

Mas não precisa ser assim. E nem é indicado que seja, exceto se não houver alternativa. Afinal, as dívidas com o governo federal, por exemplo, não desaparecem junto com a empresa. Ou seja, empurrar para debaixo do tapete e tirar do seu campo de visão não elimina o débito.

A mais recente advertência veio da Receita Federal, mas os credores surgem de todos os lados. Uma prova disso vem de pesquisas recentes divulgadas pela Serasa Experian. Os números atestam que a recuperação de empresas é uma demanda crescente, com cada vez mais negócios no vermelho.

Veja alguns dados desse cenário preocupante:

  • Demanda das empresas por crédito subiu 4,8% em agosto
  • Entre as micro e pequenas empresas, o índice foi de 5% no período
  • Número de recuperações judiciais cresceu 25,5% em agosto
  • As MPEs lideraram, com 73% do total de requerimentos
  • A pontualidade de pagamentos das MPEs caiu em julho e chegou a 94%
  • Isso quer dizer que, a cada 1.000 pagamentos, 940 foram quitados à vista ou com até 7 dias de atraso
  • Número de empresas inadimplentes chegou a 5,1 milhões em maio
  • Em doze meses, o aumento na inadimplência é de 15,9%
  • O total de dívidas soma R$ 119,2 bilhões
  • Em média, cada empresa tem 11 dívidas, com valor médio de R$ 23 mil cada uma.

O que essa série de números revela? Que as empresas devem como nunca, têm honrado com maior dificuldade seus compromissos financeiros, frequentemente buscam crédito para isso e são as que mais encaminham pedidos de recuperação judicial.

Ou seja, o sinal amarelo está ligado e não dá mais para adiar a necessidade de recuperação de empresas no Brasil. A pergunta é: como?

Como vencer a crise e sair do vermelho

Fechar a empresa em decorrência de uma crise financeira até pode ser a opção mais sensata. Em outros casos, a sobrevivência é possível, mas não sem estabelecer uma verdadeira operação de guerra para colocar as contas em dia. E tem ainda a alternativa de gastar mais (leia investir) para a partir daí se recuperar.

Não há uma receita que se aplique a todos os cenários, o que nos leva ao passo 1 do planejamento para sair do vermelho: o diagnóstico financeiro.

1. Faça um diagnóstico das finanças

O quão ruim é a situação de momento? É com a resposta a essa pergunta que você deve iniciar a sua recuperação enquanto negócio. Para fazer esse diagnóstico, você precisa analisar seu fluxo de caixa, avaliar o comportamento de receitas e despesas, identificar por onde o dinheiro tem escapado e admitir os próprios erros.

2. Elimine as causas

Se o ralo que encontrou na etapa anterior não for fechado, você seguirá na estratégia do cobertor curto. Ou estará enxugando gelo, para sermos mais claros. No fim das contas, o resultado é o mesmo: o vazamento vai continuar até não haver mais recursos disponíveis.

3. Relacione tudo o que deve

Essa é uma etapa que pode ser realizada simultaneamente com a anterior. Não importa qual seja a dívida, nem seu tamanho, nem quem é o credor. Primeiro, é preciso colocar tudo no papel (ou numa planilha eletrônica, o que é mais produtivo). Aí sim, depois de conhecer todos os débitos, vale classificar por valor e por peso dos juros, por exemplo.

4. Renegocie sem medo de ser feliz

Principalmente quando as dívidas têm em instituições financeiras o seu credor, costuma haver abertura para a renegociação. Mas mesmo na recente notificação da Receita Federal, os débitos podem ser quitados também parcelados ou por compensação. Ou seja, não tenha vergonha de pedir um abatimento ou melhores condições para pagar.

5. Faça do verbo cortar seu novo mantra

Conforme renegocia a sua dívida, é fundamental analisar tudo o que pode ser cortado. A redução de custos e a eliminação de despesas deve ser abrangente, desde os menores aos maiores débitos. Tudo que puder ser cortado ajuda. E sempre dá para cortar mais, acredite.

6. Avalie as opções possíveis

Você listou, cortou, renegociou, e agora? Quais são as alternativas que restam? A proposta do credor é boa? Com os ajustes que fez é possível assumir o novo compromisso? Ou será necessário tomar uma medida mais extrema, como demitir, mudar de ramo ou fechar a empresa? Coloque todas as cartas à mesa e reflita sobre cada cenário possível.

7. Estabelece seu planejamento

Seja qual for o caminho escolhido na etapa anterior, ele depende de uma boa estratégia para dar certo. Pode soar curioso, mas até para encerrar as atividades é preciso planejar. O instrumento da vez é um plano de recuperação financeira. E tudo começa a partir de metas e das ações para concretizá-las.

Depois da teoria, é hora de partir para a prática. Não esqueça de monitorar, mensurar e avaliar para ajustar, se preciso for. Foque no objetivo e persiga o resgate da sua empresa.

Aprenda com os próprios erros

Se é verdade que a crise abre oportunidades, não se pode negar que uma das principais está no aprendizado que os dias difíceis oferecem. A recuperação de empresas nunca é fácil, mas isso não significa que seja impossível. Com planejamento, dedicação e rigor no controle financeiro, até as metas mais complicadas podem se tornar viáveis.

Você já enfrentou alguma crise financeira na sua empresa? Comente!

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