Gestão do Negócio

Por que as empresas quebram (e como não ser mais um a falir)

Marcio Roberto Andrade Marcio Roberto Andrade | Atualizado em: 24/11/2023 | 13 mins de leitura

É importante saber por que as empresas quebram

Saber por que as empresas quebram é uma informação importante para o empreendedor experiente, iniciante e mesmo para aquele que ainda planeja iniciar um negócio. Afinal, se há um comportamento padrão que leva à falência, o ideal é conhecê-lo para evitá-lo. Neste artigo, você vai aprender a fugir dos erros que podem levar seu sonho ao fim.

Você vai ler a partir de agora:

  • A mortalidade precoce das empresas brasileiras
  • Dados sobre falências e inadimplência nas empresas
  • Os 10 principais motivos que derrubam os negócios
  • As consequências da má gestão financeira
  • Os prejuízos da falta de planejamento
  • Como o desconhecimento e a falta de humildade atrapalham
  • As melhores táticas de prevenção à falência. 

Falência: um mal precoce nas empresas brasileiras

Se alguém lhe disse que a tempestade passaria após iniciar seu negócio, cometeu um engano. Não faltam pesquisas a produzir informações para atestar a mortalidade precoce das empresas no Brasil.

Uma das mais recentes é a Demografia das Empresas, divulgada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as conclusões, 22,8% dos negócios não sobrevivem ao primeiro ano de funcionamento no país, enquanto 52,5% quebraram antes de completar cinco anos.

Outro fator preocupante é a quebradeira crescente, como o aumento no número de pedidos de falências (12,2%), de falências decretadas (14,7%) e de pedidos de recuperação judicial (49,4%). O levantamento da SCPC Boa Vista compara o total de registros em 2016 com 2015.

A empresa realiza a pesquisa desde 2006 e nunca havia registrado dois anos seguidos em que as quebras cresceram na casa dos dois dígitos, como agora. Em 2015, já havia sido verificado aumento de 16,4% com relação a 2014.

Todos esses índices mostram que as empresas quebram e muitas delas antes de adquirir maturidade no mercado. Se quase um quarto delas sobrevive apenas por alguns meses, imagine em quantos desses casos seus proprietários ainda tiveram que responder por dívidas após fechar as portas.

E entre aqueles que conseguiram mantê-las abertas, fica a pergunta: a que custo? Muitas vezes, o preço da sobrevivência é alto, e não raro remete ao endividamento.

Foi o que ocorreu no ano passado, por exemplo. Em 2016, o número de empresas brasileiras que encerraram o ano inadimplentes cresceu 5,01%, com um aumento de 3,37% no número de dívidas em atraso.

Esse é um cenário ainda pior do que um balanço negativo, pois significa que os empreendedores sequer conseguiram pagar os compromissos financeiros por eles assumidos. O dado consta em pesquisa realizada pela Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e SPC Brasil.

Não por acaso, empreendedores entrevistados para a 4ª edição do Termômetro ContaAzul elegeram a construção de uma reserva financeira como a principal prioridade para 2017. Entre eles, predominou a opinião quanto à necessidade de aumentar o capital de giro para financiar a própria operação sem precisar buscar crédito e se endividar.

Mas será que manter o caixa no azul é suficiente para o negócio sobreviver? Ao analisar por que as empresas quebram, percebemos que há muito mais a se preocupar em um negócio do que com o sempre importante dinheiro.

É importante saber por que as empresas quebram

Afinal, por que as empresas quebram?

Da mesma forma que institutos e entidades produzem informações sobre a mortalidade precoce de negócios no Brasil, também há variados estudos que apontam por que as empresas quebram. A partir de agora, vamos selecionar algumas das razões que levam à falência e buscar entender como isso acontece.

Antes, porém, vale citar o que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apurou há alguns anos junto a empreendedores, na construção da pesquisa Fatores Condicionantes e Taxa de Mortalidade de Empresas no Brasil. Veja o top 10 das falências, segundo opiniões espontâneas dos entrevistados

  1. Falta de capital de giro: 24,1%
  2. Alta carga tributária: 16%
  3. Falta de clientes: 8%
  4. Concorrência: 7,1%
  5. Baixo lucro: 6,1%
  6. Dificuldade financeira: 6,1%
  7. Desinteresse na continuação do negócio: 6,1%
  8. Maus pagadores/inadimplência: 6,1%
  9. Problemas familiares: 3,8%
  10. Má localização da empresa: 3,8%

Enquanto analisa esses resultados, vamos falar individualmente sobre algumas das causas que levam ao fechamento precoce de empresas no Brasil.

Má gestão financeira

Se unirmos os itens 1, 5 e 6 da pesquisa do Sebrae, chegaremos a 36,3%. Esse seria o índice de falências diretamente relacionado a erros na gestão financeira. Muito provavelmente, estamos falando da principal razão para as empresas quebrarem no Brasil. Afinal, quem sobrevive sem dinheiro?

Desde condutas primárias, como misturar as finanças da empresa, até erros na definição do preço de venda, passando ainda por captação de empréstimos sem planejamento, descontrole de contas a pagar e a receber, ausência de registro e de análise de receitas e despesas, tudo isso é responsabilidade do gestor.

Gerenciar bem financeiramente uma empresa é quase uma ciência, exige estudar, monitorar e produzir informações que sirvam de embasamento para as próprias decisões sobre os rumos do negócio.

Quem acha que fatura bem, mas em vez de lucro colhe prejuízo, comete o pecado de não se atentar aos gastos. E pelo que as pesquisas revelam, não estamos falando de um grupo pequeno.

Falta de planejamento

Voltando ao ranking do Sebrae, podemos juntar agora os itens 2, 3, 4, 7 e 10, o que resulta em um índice de 41%, superior, portanto, ao relativo à gestão financeira. E por que todos eles estão relacionados à falta de planejamento? Para entender, basta inserir a pergunta “como não previu?” antes de cada uma das alternativas.

  • Como não previu os impostos a pagar?
  • Como não previu se o negócio seria viável, atraindo interesse do público?
  • Como não previu o enfrentamento com a concorrência?
  • Como não previu que o negócio não era bem o que gostaria de fazer?
  • Como não previu que a localização escolhida não era adequada para a empresa?

Perceba que são equívocos tão amadores que seria difícil acreditar em tais resultados não fossem eles parte da realidade do empreendedorismo no Brasil.

Pequenos empresários que espontaneamente justificaram sua falência ao Sebrae sequer perceberam que quebraram simplesmente por não terem pensado na empresa antes de seu lançamento.

Poderíamos, ainda, incluir a inadimplência do cliente como produto da falta de planejamento. Afinal, oferecer um meio de recebimento no qual a empresa assume o risco do não pagamento só costuma dar certo se houver muito… planejamento!

Desconhecimento generalizado

A questão da inadimplência, sobre a qual acabamos de falar, resume bem como o desconhecimento do empresário pode ser nocivo ao negócio. Imagine oferecer pagamentos no boleto, cheque, carnê ou crediário próprio sem conhecer o perfil do seu cliente, sem saber se ele tem interesse nessas opções e se possui um histórico de bom pagador.

Todos meios citados têm em comum o fato de a empresa assumir o risco da inadimplência. Se o cliente não pagar, o prejuízo é dela, assim como a necessidade de cobrar o devedor para recuperar ao menos parte das perdas.

Mas essa não é a única consequências de não conhecer seu cliente. Esse é um equívoco que pode ser catastrófico, pois leva a erros no que você oferece ao seu público e na forma como oferece. Ou seja, falha nos produtos ou serviços, no atendimento e nas ações de marketing. Assim, desperdiça muita energia e muito dinheiro. Não surpreende que a falência seja uma consequência natural.

E tem ainda o desconhecimento do mercado, dos pontos fracos e fortes do seu produto/serviço, das ameaças da concorrência, dos fatores econômicos, sociais e até da infraestrutura para viabilizar suas operações. Há muito a se pensar e conhecer antes de abrir uma empresa, mas as pesquisas dão a entender que grande parte não presta atenção nisso.

Autossuficiência enganosa

O empreendedor que se descuida do caixa, que não planeja e nem pesquisa o mercado antes de se lançar nele, pode agir assim por julgar que nada disso é necessário, pois ele dispõe de tudo o que precisa para ter um negócio de sucesso. Afinal, a ideia foi sua, e ela é ótima.

Mais do que a falta de humildade, essa postura revela uma falsa autossuficiência. Como consequência, o empresário não precisa de sócio, de contador, de tecnologia e nem mesmo de profissionais de qualidade para compor sua equipe.

O problema é que, quando cair do cavalo – e certamente cairá -, o tombo será igualmente solitário, sem ter a quem recorrer para pedir ajuda.

É importante saber por que as empresas quebram

Como não ser mais um a falir

Agora que entendemos melhor por que as empresas quebram, vamos falar de soluções. Você não precisa ser mais um a fechar as portas do negócio. E se isso acontecer, que seja por questões alheias aos seus esforços e práticas na gestão. Veja quais são os comportamentos que o seu negócio espera de você para sobreviver, crescer e prosperar.

1. Estude

Um empreendedor precisa estar constantemente atento às oportunidades de aprendizado. Deve estudar o mercado, se manter atualizado, acompanhar a movimentação da economia e buscar levar da teoria à prática as melhores ações de gestão de empresas.

2. Olhe para o mercado

Você não deve lançar um produto ou serviço sem antes observar o que a concorrência tem feito. Não pode promover uma ação de marketing sem saber por qual canal seu cliente deseja ser acessado. Também não deve fechar uma compra sem cotar com outros fornecedores.

3. Dedique-se ao controle financeiro

Registrar tudo o que entra e sai do caixa é o mínimo que se espera. Usar essa informação para construir um futuro melhor revela inteligência e maturidade. Siga por esse caminho e não perca dinheiro à toa.

4. Assuma a sua responsabilidade

Se a empresa é sua, não terceirize a sua responsabilidade com ela. Obviamente, ser líder é também saber delegar funções, mas algumas delas são exclusivas do gestor.

5. Passe a tesoura

Você pode ter o melhor plano de redução de despesas, mas ainda assim sempre haverá como cortar mais. É fundamental identificar onde estão os ralos financeiros da empresa, por onde o dinheiro escorre, assim como as oportunidades de economia, que por vezes moram nos detalhes.

6. Planeje, ajuste e volte a planejar

Quando o assunto é empreender, para qualquer passo a ser dado, é preciso haver uma estratégia. Isso vale para abrir ou fechar a empresa, para expandir sua atuação, para sair do vermelho, para sobreviver e para crescer. E se algo der errado, ajuste, mas não abandone a necessidade de planejar.

7. Questione sua veia empreendedora

Com tantos desempregados no país, o que não falta são empreendedores por necessidade, que veem no negócio próprio a única chance de obter renda. Mas se você não reúne as principais características que compõem um perfil de empresário, as chances de sucesso ficam reduzidas. Coragem, perseverança, liderança, proatividade, autoconfiança e resiliência são algumas delas.

8. Conte com toda a ajuda possível

O contador é, definitivamente, o melhor amigo do empreendedor. Sozinho, sem tempo e sem conhecimento, o dono de empresa não raro mete os pés pelas mãos na gestão financeira, fiscal e tributária. E se ele alia esse suporte profissional à tecnologia, tudo fica mais fácil. Um sistema de gestão online integrando processos internos é o melhor investimento a fazer.

É importante saber por que as empresas quebram

Reflita e aprenda com os erros

Ao longo deste artigo, abordamos a mortalidade precoce de negócios no Brasil, apresentamos razões para justificar por que as empresas quebram e também falamos de soluções para que você não se junte às estatísticas.

Esperamos que o conteúdo com o qual teve contato hoje seja válido para planejar melhor o seu negócio, fazer os ajustes necessários e encaminhá-lo a um caminho seguro, de crescimento sustentável.

Como mensagem final, vale citar um trecho do ótimo livro Seu Próximo Erro Será Fatal?: Os equívocos que podem destruir uma organização (Ed. Bookman), de Robert E. Mittelstaedt Jr. Acompanhe o que diz o autor:

“Há lições a serem aprendidas observando os padrões de erros e eventos comuns em outras organizações, principalmente porque a maioria delas não faz uma boa avaliação de seus próprios erros, apesar de contar com a maior parte das informações.

Perdemos oportunidades de aprender por não sermos curiosos o suficiente para examinar a fundo nossas próprias falhas, mas também perdemos um conjunto valioso de oportunidades quando não observamos os erros que os outros cometeram, em particular quando foram bem documentados.”

A oportunidade está aí. Você não quer ser mais um a falir, certo? 

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