O medo de não ser capaz de superar os inúmeros desafios é um dos principais motivos que afastam pessoas do mundo dos negócios. Mas quando há um cúmplice para compartilhar os riscos e somar as virtudes, fica mais fácil encarar os obstáculos. É por isso que casais empreendedores – quando reconhecem o proveito que podem tirar da sua união – têm mais chances de prosperar com suas empresas.
Vantagens dos casais empreendedores
E será que há diferença entre abrir um negócio com um sócio qualquer, amigo ou conhecido, e com um cônjuge? Nessa comparação, os casais também podem sair em vantagem. Ter o parceiro ou parceira como sócio é vantajoso porque:
- Planejamento mútuo: um casal em um relacionamento estável pretende construir um futuro em conjunto, logo, os dois têm os mesmos objetivos.
- Motivação: quando um pensa em desistir, o outro evoca justamente o futuro planejado para dissuadi-lo da ideia.
- Cumplicidade: uma relação saudável entre duas pessoas é repleta de cumplicidade, o que diminui as chances de um apontar o dedo para culpar o outro e se eximir da responsabilidade.
- Confiança: sociedade sem confiança tem tudo para ser um desastre. Quer pessoa mais confiável que o parceiro ou parceira?
Para completar a receita do sucesso, basta somar a esses fatores as vantagens que outros tipos de sociedade oferecem, que são a união dos investimentos (caso a intenção seja abrir o negócio com recursos próprios) e de aptidões. Você pode ser bom em gestão e finanças e o sócio na parte criativa e de relacionamento, por exemplo, situação em que um completa o outro.
Casais inteligentes enriquecem juntos
O consultor financeiro Gustavo Cerbasi lançou, em 2004, o livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, pela editora Sextante. De lá para cá, o livro já vendeu mais de 1 milhão de exemplares, uma marca impressionante para o mercado editorial.
O livro se baseia em conselhos de planejamento financeiro para casais. “O planejamento financeiro tem um objetivo muito maior do que simplesmente não ficar no vermelho. Mais importante do que conquistar um padrão de vida é mantê-lo, e é para isso que devemos planejar”, aconselha o autor.
Cerbasi classifica as pessoas entre cinco perfis, de acordo com a maneira com que lidam com o dinheiro. São eles:
Descontrolados
São as pessoas que não controlam quanto entra e quanto sai da sua conta e, mesmo que cortem gastos frequentemente, nunca parece ser o suficiente. É normal que usem o cheque especial ou parcelem o cartão de crédito. Não há pontos fortes nesse perfil, apenas fracos: conflitos, juros desnecessários e desorientação.
Gastadores
Os representantes desse perfil gastam toda a sua renda – às vezes até um pouco mais – com viagens, roupas caras e outros bens. Acham que a vida se mede pela largura, não pelo comprimento, estilo que é sucesso entre os amigos. Se o lado bom disso são os hábitos pouco rotineiros, o ruim é a insegurança em relação ao futuro.
Desligados
Gastam menos do que ganham, mas não sabem exatamente quanto. Parcelam as compras quando não têm dinheiro suficiente na conta; quando têm, permitem-se trocar de carro ou viajar. Pessoas desse perfil costumam ter alguma folga financeira e um bom espaço para reduzir gastos, se necessário, mas incapacidade de estipular e atingir objetivos.
Financistas
São os que entendem de dinheiro e controlam com rigor os seus gastos. Elaboram planos para comprar mais pagando menos, mantêm planilhas, estão sempre com a calculadora em punho e vivem fazendo projeções. Quando não se fazem entender, são considerados chatos pela família, mas têm a grande virtude de saber desenvolver planos e colocá-los em prática.
Poupadores
É o perfil que reconhece a importância de guardar dinheiro e, por isso, restringe bastante os seus gastos, para poupar o máximo possível. O problema é que acaba sendo visto pelos outros como avarento e mesquinho, justamente porque se conforma com um padrão de vida simples e tem restrições a novas experiências.
O que acontece é que, em um casal, cada pessoa pode ter um perfil. Algumas combinações são mais propensas ao conflito, em outras “um puxa o outro” e, quando há compatibilidade de perfis, a tendência é que o relacionamento vá “a todo vapor”, mesmo que as metas financeiras não sejam alcançadas – ou não existam.
Mas os perfis criados por Cerbasi se referem ao mundo das finanças pessoais. Os mesmos estilos podem encontrados no mundo dos negócios, mas o cuidado deve ser maior, porque uma empresa está muito mais sujeita às intempéries do mercado do que uma pessoa física com um emprego estável.
O ideal é que o parceiro que ficará responsável pelo controle financeiro da empresa seja do perfil financista. Casais empreendedores compostos por duas pessoas desse estilo verão as finanças da empresa irem de vento em popa.
O único porém é o risco de a gestão se focar tanto em números a ponto de limitar o pensamento criativo e inovador – assim como, na vida pessoal, um casamento entre financistas corre o risco de deixar o sentimento de lado.
Empreender em conjunto
Embora Cerbasi reconheça que é ótimo que os casais invistam suas economias em empreendimentos próprios para render mais, as dicas de seu livro ensinam como parceiros com empregos regulares podem acumular dinheiro. Mas nem todo mundo empreende apenas pelo dinheiro – a satisfação pessoal também conta.
É isso que motivou o casal Pablo Furlanetto, 28, e Vanessa Botega, 26, a empreender. Desgostosos com a vida de funcionários na área da comunicação, tiraram um ano sabático e foram para a Irlanda estudar inglês. Saindo da zona de conforto, tiveram a oportunidade de experimentar o trabalho em ramos diferentes.
“A Vanessa trabalhou em uma gelateria italiana, no centro de Dublin, o que foi o embrião para a abertura do nosso negócio”, conta Furlanetto.
Deixando a Irlanda, passaram alguns meses na Itália e conheceram estabelecimentos que inspiraram o café Ricordare – Lo Spazio della Felicità, que os dois abriram em abril de 2016 em Bento Gonçalves, uma cidade de colonização italiana na serra gaúcha.
Para Furlanetto, o fato de um dar suporte ao outro é fundamental. “Além disso, como seres humanos somos diferentes, temos perfis diferentes. No caso meu e da Vanessa, dividimos as tarefas conforme a aptidão de cada um. Duas cabeças pensam sempre melhor que uma”, diz.
Nem tudo são flores
Apesar das evidentes vantagens de empreender como casal, a ideia pode se tornar um desastre caso as diferenças não sejam bem administradas. Erros comuns são confundir assuntos pessoais com da empresa e não ter bem definidos quais os papéis de cada um dentro do negócio.
No caso de Pablo e Vanessa, o empresário garante que a empreitada não causou turbulências entre os dois. “É preciso ter calma, pois você leva o negócio para dentro de casa, principalmente no início, e isso se você não tomar cuidado pode arruinar o relacionamento. Nós sabíamos que o início seria mais trabalhoso e estamos lidando bem com isso”, assegura.
Para ele, o segredo é se preparar para empreender, estudar bem o mercado e ter certeza de que os dois estão preparados e dispostos a encarar o desafio.
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