Controle Financeiro

Vai e vem nos índices de inflação: como isso afeta as pequenas empresas?

Marcos Perillo Marcos Perillo | Atualizado em: 07/07/2023 | 7 mins de leitura

índices de inflação devem ser acompanhados

Em julho, a palavra deflação voltou ao vocabulário do brasileiro após mais de uma década. Mas a queda nos índices de inflação talvez ainda não tenha sido sentida pelo seu negócio. Neste artigo, você vai entender por que isso acontece e também como esse vai e vem do indicador econômico afeta as pequenas empresas.

Menor inflação não reduz desconfiança dos empresários

O momento é propício para compreender os movimentos nos índices de inflação no Brasil. Afinal, dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início deste mês apontam para a primeira deflação (queda de preços) desde 2006. Segundo o órgão, em junho, houve inflação negativa de 0,23%, um resultado só batido pelo -0,51% de agosto de 1998.

Outra notícia econômica interessante revelada pelo IBGE foi a queda de três pontos percentuais no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação no país. De dezembro a maio, a desaceleração foi de 6,29% para 3,6%.

Parece um cenário promissor para a recuperação dos pequenos negócios no Brasil, certo? Não é o que mostra o Índice de Confiança do Pequeno e Médio Empresário, realizado pelo Insper e o banco Santander e divulgado pelo Valor Econômico. Entre os 1.292 gestores ouvidos, predomina a desconfiança ainda. Veja os principais resultados:

  • 39,2% dizem que a queda da inflação não tem efeito sobre os negócios
  • 20% têm expectativa quanto a uma redução de custos
  • 18,7% apontam para a estabilidade dos negócios
  • 13,5% esperam aumento nas vendas
  • 6,7% acreditam na possibilidade de realizar investimentos e empréstimos.

Como os índices de inflação afetam as empresas

O indicador de medição da inflação mais conhecido no país, o IPCA, é voltado ao consumidor, não às empresas. Ainda assim, serve como parâmetro quanto à expectativa de consumo que mais à frente se refletirá no faturamento dos negócios.

Para quem é empresário, vale também ficar ligado nos índices gerais de preços, que têm acompanhado o quadro de deflação. Por exemplo, no balanço de 12 meses até junho de 2017, o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) registrou queda de 0,78%.

Seja na alta ou na baixa, o vai e vem dos índices de inflação não passa despercebido pelas pequenas empresas. Embora seja quase impossível prever com precisão o comportamento desses indicadores no longo prazo, é fundamental que o gestor acompanhe a sua evolução e tenha uma estratégia adequada para enfrentar os principais cenários.

Veja em quais áreas os reflexos da inflação nas empresas são mais evidentes:

Contas básicas

Água, luz, gás e telefonia estão entre as primeiras contas a sofrer reajustes conforme a inflação se movimenta. Ao menos para cima, é claro. Reajustes para baixo não são muito comuns, especialmente quando a deflação não dá sinais de ser duradoura, como agora.

Como esse tipo de despesa abocanha uma importante fatia do orçamento em qualquer empresa, é necessário monitorar o consumo, se possível implantando políticas de redução.

No caso da energia elétrica, por exemplo, mesmo se houvesse queda na taxa em resposta aos menores índices de inflação, essa conta sofre acréscimos eventuais das bandeiras tarifárias, que em agosto voltará a ser vermelha – a mais cara.

Aluguel

Se a sua empresa tem sede alugada, fique atento. O IGP-M, sobre o qual acabamos de falar, é o índice que regula os reajustes nos contratos de locação, uma vez ao ano. E como o indicador tem resultados negativos nos últimos 12 meses, há possibilidade de conseguir uma redução, embora pequena, ou ao menos a manutenção do valor.

O fato é que o empreendedor precisa acompanhar o índice de inflação para ter argumentos na negociação e não aceitar um reajuste diferente do que o mercado pratica. Com a informação em mãos, se a proposta não agradar, é justo buscar uma alternativa, desde que uma mudança de endereço não prejudique as operações.

Compras

Ao lado das vendas, sobre as quais falaremos em seguida, as compras são o setor da empresa que mais sentem os efeitos da inflação – e também aquele no qual isso ocorre de forma mais rápida.

Embora aqui se aplique o mesmo raciocínio utilizado nos reajustes das contas básicas (em velocidade menor para a redução do que para o aumento nos preços), vale monitorar o mercado em busca de oportunidades.

Se você não depende de apenas um fornecedor – o que é o ideal -, é possível usar os números a seu favor na negociação com seus atuais parceiros ou mesmo na seleção de novos. Afinal, na hora de inflação alta, esse é um argumento utilizado por eles.

Vendas

Se você é dono de um estabelecimento comercial, os reflexos da variação nos índices de inflação chegam primeiro ao seu negócio – para o bem e para o mal. Quando o indicador está em alta, o consumidor se retrai, controla os gastos e seu faturamento recua ou fica estagnado.

Já quando há uma deflação, como agora, mas que se sustenta no longo prazo, os efeitos são contrários. Nesse caso, é preciso se preparar para atender a um aumento na demanda.

A dica vale também para empresas industriais e prestadores de serviços. Se a queda de preços persistir, é importante ampliar a sua capacidade de atendimento ao que o mercado deseja, o que invariavelmente demanda investimentos em recursos humanos e materiais.

Despesas com pessoal

Nesse quesito, as despesas se movimentam para cima e para baixo tanto na alta quanto na queda da inflação. Se ela sobe, os salários precisam ser reajustados em um percentual maior para repor a perda no poder aquisitivo dos trabalhadores.

Já com inflação em baixa, o crescimento no faturamento costuma exigir novas contratações para dar conta das maiores demandas.

Empréstimos

Essa é uma questão óbvia, mas nem por isso pode o empresário deixar de pensar a respeito. Ao contrário disso, é necessário ficar atento aos melhores períodos para a tomada de um empréstimo para a empresa.

Épocas de inflação em alta são terríveis para a contratação de crédito, já que as taxas costumam acompanhar essa evolução. Por outro lado, esse indicador não é definitivo na questão dos juros, que tem muito mais relação com a movimentação da Taxa Selic.

Felizmente, nos dois casos, o momento é de queda. Em breve, quem sabe, o seu objetivo de buscar dinheiro de terceiros possa ficar mais barato.

A deflação ainda não chegou até a sua empresa?

Ao observarmos a pesquisa do Insper, parece haver certa contradição entre o momento de deflação e a percepção de um cenário estável, mas ainda não positivo pela maioria. Mas é interessante observar que essa é uma avaliação até certo ponto esperada pelos economistas.

Quando se fala dos efeitos dos índices de inflação sobre empresas, é preciso considerar que eles demoram mais a serem notados do que acontece na comparação com o consumidor, por exemplo.

Inicialmente, os preços mais baixos incentivam o consumidor, que ganha em poder aquisitivo e vai às compras. Em seguida, tradicionalmente, é o comércio o primeiro setor a sentir os reflexos da inflação em queda.

Depois, chega a vez de indústrias e de prestadores de serviços – os primeiros para suprir a demanda por novos produtos no mercado e, os segundos, quando a economia inicia o processo de reaquecimento e tudo aquilo que ficou para mais tarde volta à pauta nas famílias e empresas brasileiras.

Então, não se surpreenda se os negócios ainda estão longe do que você gostaria na sua empresa. Não custa lembrar que o país recém dá sinais de começar a sair da maior recessão da sua história, com números negativos por dois anos consecutivos no Produto Interno Bruto (PIB).

Diante de uma crise tão expressiva, é natural que o recomeço seja difícil. E que bom que seja assim mesmo, com mais notícias positivas nos próximos meses para você, empreendedor, vislumbrar tempos melhores em 2018. 

E você, já tem percebido algum efeito da menor inflação na sua empresa? Comente!

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