Gestão do Negócio

Guia de sobrevivência para as empresas no momento de dólar em alta

Marcio Roberto Andrade Marcio Roberto Andrade | Atualizado em: 07/07/2023 | 11 mins de leitura

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Em setembro de 2015, o dólar impressionantemente atingiu sua maior cotação em 13 anos, tendo sido negociado a R$ 4,24 nas casas de câmbio pelo país afora. Deixando um pouco de lado fatores externos, como a desaceleração da economia na China, esse aumento se deve, principalmente, a três razões: crise econômica em que o Brasil se encontra, instabilidade política do cenário brasileiro e dificuldades que o governo encontra para aprovar e realizar o ajuste fiscal.

E por mais que a crise econômica no Brasil tenha dado seus primeiros sinais ainda em 2014, foi em 2015 que o contexto realmente tomou força e começou a preocupar tanto trabalhadores como empresários em geral, até que, também em setembro de 2015, o Brasil sofreu com a retirada de um selo de investimento da Standard & Poor’s, deixando os investidores de cabelos em pé. Com isso, o empresário brasileiro encontra, além de todos os desafios naturais já intrínsecos, as dificuldades com a crise interna e a crescente desconfiança dos investidores, agora também envolto com as atribulações da alta do dólar.

Lembrando que a elevação do dólar resulta em, basicamente, um aumento de custos de produção em geral. E é exatamente por isso que é preciso pensar em soluções eficazes para passar por esse momento de flutuação cambial com o mínimo de impacto possível. Não sabe nem por onde começar a traçar sua estratégia para garantir o sucesso de seu empreendimento? Nosso guia de sobrevivência pode ajudar!

Medidas essenciais

O aumento do dólar leva ao aumento dos gastos operacionais como um todo, de modo que a roda da economia tende a ficar relativamente parada frente à desvalorização do real. Isso significa menos consumo e, portanto, menos lucro. A responsabilidade de virar esse jogo cabe ao empresário, que precisa buscar soluções para fazer com que sua empresa passe por um momento tão agressivo de forma ilesa. Com isso, as medidas mais necessárias em um momento de dólar alto incluem:

Avaliação do cenário

Embora a situação esteja naturalmente desfavorável, é preciso mais do que esse diagnóstico generalista para ter certeza de onde exatamente sua empresa está. Por isso, quando o dólar sobe e permanece flutuando, é fundamental fazer uma avaliação detalhada do contexto para garantir que a empresa sobreviva. Essa análise não diz respeito somente aos lucros do negócio, mas principalmente a quanto a empresa gastará futuramente. Nessas horas, avaliar os fornecedores é crucial para identificar onde você provavelmente sofrerá com um aumento de custos, por exemplo. Com isso você já pode ir se preparando para absorver melhor os impactos, uma vez que sua empresa deve sofrer gradativamente com o aumento.

Planejamento estratégico

Momentos atípicos, como os de crise, pedem medidas condizentes com a situação. É hora, portanto, de elaborar um planejamento estratégico realmente direcionado para a situação. Pense bem: por melhor que seja seu plano de negócios, é bem improvável que ele tenha vislumbrado a maior alta do dólar em quase 15 anos! Por isso, é hora de adaptá-lo. Veja qual será o impacto desse novo elemento na sua empresa e se antecipe, a fim de evitar um efeito dominó. Assim, se você sabe que terá que pagar um fornecedor em dólar em algumas semanas, é hora de apertar os cintos para diminuir os impactos. Já se você precisa adquirir um produto em dólar, precisará avaliar se é melhor comprar agora, antes que dólar suba mais, ou esperar a onda de alta baixar.

Negociação com fornecedores

Certo é que, por mais que um bom relacionamento com os fornecedores faça bem para a empresa em qualquer momento, ele se torna crucial em horas de crise. Por isso, com essa alta impressionante do dólar, o ideal é buscar condições facilitadas com seus fornecedores, especialmente com aqueles que repassarão o aumento para seu negócio. Faça reuniões, negocie condições melhoradas e, se necessário, procure por opções que sejam mais em conta. A intenção aqui não é tirar vantagem dos fornecedores, mas, sim, chegar a um denominador comum, de forma que sua empresa seja o menos prejudicada possível.

Redução de custos

Hora de investir na redução e otimização de custos! Mas para que essa redução ocorra de maneira efetiva é preciso que todos os colaboradores estejam envolvidos na tarefa, percebendo o quão importante esse passo é para a empresa. Para a redução podem ser usados relatórios de desempenho e custo tanto dos setores em geral como de processos específicos para ver o que vem consumindo mais capital da empresa. Se o negócio possui frota própria, por exemplo, a redução do consumo de combustível provavelmente se fará necessária. Já se usa muita energia elétrica em seus processos é preciso pensar na redução de consumo ou, no mínimo, em maneiras de aumentar sua eficiência. Caso o problema seja o desperdício, é preciso pensar em maneiras de reutilizar recursos.

Aumento do capital de giro

A alta do dólar pode tanto significar o momento culminante de uma crise, como ser só a ponta do iceberg. Por isso, pensando em médio prazo, é necessário aumentar o capital de giro do negócio caso seja preciso lidar com momentos ainda mais difíceis. E como a palavra de ordem é liquidez, é importante otimizar o tamanho do estoque e diminuir os passivos circulantes — ou seja, as contas a serem pagas —, que, sejam em dólar ou diretamente afetados por ele, devem ser substituídos sempre que possível.

Otimização de processos

Uma vez que a redução dos custos está diretamente ligada à otimização dos processos, é preciso, mais do que nunca, investir em melhorias para garantir que os trabalhos sejam mais eficientes e os custos, menores. A empresa não necessariamente precisa produzir mais — afinal, se não tiver consumo o bastante, o resultado será capital imobilizado em forma de estoque excedente —, mas sim focar em diminuir as perdas e os gastos dos processos.

Medidas desnecessárias

Um momento de dólar em alta, crise econômica e incertezas sobre o futuro leva muitos empresários a tomarem atitudes que a princípio parecem ser o melhor para o negócio, mas que muitas vezes podem se mostrar precipitadas. Por isso, as principais atitudes que definitivamente não devem ser tomadas são:

Não rever a margem de lucro

É óbvio que o empresário precisa da margem de lucro para que possa, inclusive, dar continuidade ao negócio, mas manter a margem de lucro sem sequer pensar em uma segunda avaliação é garantia de perda de competitividade. Quando um empresário repassa toda a alta do dólar para um mercado já em crise e desaquecido, o resultado se vê na diminuição ainda maior das vendas, uma vez que os consumidores nesse momento estão procurando por preços mais baratos. Como manter a competitividade não é fácil e reduzir a margem de lucro muitas vezes é um processo bastante custoso, quando a empresa absorve parte do impacto acaba mantendo os clientes e consegue bons resultados em médio prazo.

Não qualificar os colaboradores

Com o dólar em alta, é mais que natural que a venda se torne ainda mais importante, certo? E para conseguir resultados melhores é preciso, em contrapartida, oferecer melhorias para o mercado. Ao não investir na qualificação de seus colaboradores, maiores se tornam as chances de que o atendimento fique aquém do esperado e que a empresa sofra ainda mais com o aumento do dólar.

Não planejar os investimentos

Momentos de crise normalmente abrem as portas para algumas oportunidades de investimento, já que a concorrência tende a pisar com mais força no freio, controlando um pouco mais a alocação de seus recursos. Mas atenção: embora investir mesmo em um momento desses possa ser uma boa saída, é preciso que os investimentos sejam feitos de maneira calculada, para que não acabem trazendo o efeito inverso do desejado.

Não manter os funcionários

Fato é que o aumento do dólar pode agravar os efeitos da crise econômica pela qual o Brasil já vem passando. E isso muitas vezes resulta na necessidade de dispensar colaboradores. A demissão, entretanto, não pode ser utilizada pelo empresário como o caminho mais curto para conseguir reduzir os custos do negócio, já que os talentos podem fazer toda a diferença na passagem por um momento como esse. Demitir funcionários deve ser, portanto, a última opção para prevenir que a concorrência cresça no mercado e ganhe competitividade às custas de sua empresa.

Não estabelecer prioridades

Se já não é possível fazer tudo ao mesmo tempo em momentos propícios, com a alta do dólar isso se torna simplesmente inimaginável. Por isso, é fundamental estabelecer prioridades bem pensadas, de preferência que estejam alinhadas com o novo plano de negócio. Só assim é possível conseguir, passo a passo, manter a empresa de pé mediante uma situação tão controversa e desafiadora.

Estratégias de sobrevivência

Sabia que o mesmo dólar alto que assola muitas empresas e leva outras tantas a fecharem suas portas é aquele que oferece diferentes oportunidades para empresários preparados? Acredite: com as técnicas certas é possível, sim, surfar na onda do dólar alto e conseguir, inclusive, melhores resultados para sua empresa. Dentre as estratégias estão:

Aumentar as exportações

Se seus produtos cruzam os oceanos, essa é, mais do que nunca, a hora de investir no mercado de exportações. Então desenvolva estratégias para aumentar as vendas, firme novos acordos comerciais e prospecte novos clientes para garantir que a alta do dólar signifique uma alta também nos seus lucros. Só não se esqueça de que nesse cenário é preciso ter muito cuidado caso você faça vendas a prazo, já que nesse período é possível que o dólar abaixe e se estabilize, fazendo com que você fique sem o retorno esperado.

Resgatar os investimentos

Provavelmente não há empresas mais satisfeitas com o aumento do dólar do que aquelas que investiram em câmbio quando a moeda norte-americana estava abaixo dos R$3,00. Se esse é o feliz caso do seu negócio, essa é a hora para resgatar seus investimentos, especialmente se a moeda experimentar mais uma disparada. Lembre-se de que, como tudo mais o que cerca o universo dos investimentos, o timing é fundamental. Assim, esperar demais pode fazer com que a retirada deixe de ser tão vantajosa.

Apostar em matéria-prima local

Quando você investe em matéria-prima nacional e local, sua empresa enfrenta melhor a alta do dólar por duas simples razões: o produto é mais barato e o mercado local fica aquecido. Como a empresa de matéria-prima ganha mais, consequentemente também investe mais e se torna mais competitiva. Com isso, as pessoas também tendem a consumir mais para aproveitar os valores em conta. Com isso, a roda da economia volta a girar, ainda que localmente.

Inovar nas soluções

Essa também é a hora de inovar nas soluções, especialmente nas que dizem respeito diretamente ao momento de crise. Pense bem: com o dólar alto, as pessoas e as empresas em geral não só não querem como não podem gastar muito. Assim, se sua empresa oferece uma solução exatamente para isso, maiores são as chances de você ganhar uma maior fatia de mercado.

Nesse contexto, uma empresa de TI que invista no desenvolvimento de um software de gestão para garantir a redução dos custos, por exemplo, pode conseguir clientes que enxergam a necessidade de se apostar nesse tipo de inovação. Já se o foco da empresa está na produção, criar um produto mais durável e econômico pode ser a solução para atrair a atenção de quem quer economizar. Oferecer soluções de valor, que mostrem ao cliente que ele pode passar pela crise sem grandes abalos é, portanto, uma forma de se manter na ativa e garantir que a empresa sobreviverá às intempéries.

De fato, o dólar alto aliado a um momento de instabilidade política e econômica é a receita fatal para muitas empresas, que decidem encerrar suas atividades porque simplesmente não conseguem mais se manter no mercado. Para que isso não aconteça com seu negócio, é preciso investir na contenção de danos o mais rapidamente possível, inclusive com uma reavaliação do planejamento estratégico, tornando-o específico para a situação. Como você viu aqui no nosso guia de sobrevivência, não tomar atitudes precipitadas também faz parte das medidas necessárias em um período tão peculiar. E por mais difícil que pareça, a verdade é que o dólar em alta pode se transformar em uma grande oportunidade para empresas devidamente preparadas, garantindo não só a redução de prejuízos como melhorando os indicadores em geral.

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